A Bárbara trouxe um tema para o blogue que acho extremamente importante: a obesidade infantil.
Eu sofro de obesidade. E quando digo ‘sofro’ é em toda a amplitude da palavra. A Bárbara evidenciou a parte física da situação, eu gostava de vos falar da parte psicológica do excesso de peso.
Sou uma pessoa completamente resolvida, segura de si e que se aceita como é em todos os aspectos mas, não pensem que não existe um lado negro da questão. Ele existe. É real. Não vale a pena ignorar e fingir que não existe.
A obesidade faz parte da minha vida desde sempre. Nunca me lembro de ter sido de outra maneira (a não ser quando cometi a maior asneira da minha vida e recorri aos préstimos do Dr. Tallon) e isso afectou o modo como me relaciono com o mundo. E se hoje, essa relação é saudável, não o foi anteriormente. Não o foi particularmente na infância.
Crescer com excesso de peso é difícil. Não vamos dourar a situação com o discurso que as pessoas têm de se aceitar como são. Isto é verdade (tanto é, que eu aceitei) mas, também é verdade que nós nos podemos aceitar perfeitamente mas vivemos em sociedade, vivemos com o ‘outro’ e o ‘outro’ nem sempre nos aceita como nós somos. Isto não põe em causa a minha visão relativamente ao papel da mulher na sociedade e a pressão (estúpida) do culto do corpo pois estou a falar de crianças e adultos, independentemente do seu sexo.
Sendo criança, a estrutura psicológica necessária para se lidar com a crítica é quase inexistente. O excesso de peso não aumenta apenas a probalidade de na vida adulta se desenvolver doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, asma, doenças do fígado, apneia do sono e vários tipos de cancro pode lesionar para sempre a auto-estima e o equilíbrio psicológico de uma pessoa.
Crescer com uma constante avaliação em relação ao nosso peso por parte da família, amigos e professores é, na minha opinião, uma forma constante de bullying. Uma agressão passiva, constante e avassaladora aos alicerces de confiança de uma criança.
A criança ‘gorda’ é rotulada sempre como preguiçosa e glutona. É a última a ser escolhida para todas as brincadeiras. É a primeira a ser alvo de piadas. É o tema de conversa em família.
Do outro lado está apenas uma criança que não faz a mínima ideia porque é tratada deste modo. Que não tem a mínima noção do que é a Obesidade e, acima de tudo, não tem as ferramentas quer por um lado para a evitar, pois depende completamente dos alimentos que lhe dão, quer por outro para a aceitar e compreender (no meu caso, existe uma predisposição genética para a obesidade na família e uma predisposição genética para cozinhar, como se costuma dizer ‘junta-se a fome com a vontade de comer’ e dá nisto).
Cabe a todos nós, pais e educadores, ter um papel activo na prevenção da Obesidade Infantil promovendo bons hábitos alimentares mas, acima de tudo, acredito que é necessário comer bem para poder mostrar como comer bem.
Que moral tem um pai ou mãe que exige aos filhos que comam vegetais quando eles não fazem parte da sua dieta habitual?
Cá em casa aproveitámos a gravidez para melhorar os nossos hábitos alimentares. Fazemos as nossas asneiras como todos (para isso servem os jantares com os amigos), mas passámos a evitar certos alimentos, por exemplo: passámos a optar por fazer refeições apenas com carnes brancas e introduzimos mais pratos vegetarianos. Água, muita água. Sopa, salada e fruta estão sempre presentes. Sumos só naturais ou zero (atenção que os lights não contam, são uma Montserrat Caballe disfarçada de Kate Moss, no que toca à quantidade de açúcar).
Hoje sei coisas que a minha mãe não sabia. A minha mãe fez o melhor que soube comigo. Eu, vou tentar fazer melhor com o S.
Não sei se ele vai sofrer de obesidade mas sei que vou fazer o que está ao meu alcance para o evitar. Se não for possível, se ele realmente sair à mãe (e ao tio, e ao avô, e ao bisavô) então vou-lhe dar todas as ferramentas para lidar com a situação e sair dela uma pessoa melhor.
Vou-lhe mostrar aquilo que aprendi há muito tempo: nós somos muito mais do que o nosso corpo é.